sábado, 9 de abril de 2016

Análise do Comportamento oferece procedimentos eficazes para tratar transtorno de atenção e hiperatividade

Foto: Matheus MaziniFoto: Matheus MaziniMais do que diagnosticar, analisar o comportamento dos indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e propor maneiras de autocontrole é a proposta do Laboratório de Aprendizagem Humana, Multimídia Interativa e Ensino Informatizado (Lahmiei) da Universidade Federal de São Calos (UFSCar). "Uma característica fundamental dos indivíduos com TDAH é a impulsividade, e os analistas de comportamento acreditam que isso é um problema de autocontrole e, portanto, a solução mais eficaz seria desenvolver procedimentos e maneiras eficientes para aumentar gradativamente o tempo de espera destas pessoas", explica Giovana Escobal, vice-coordenadora do Lahmiei, pesquisadora visitante do Departamento de Psicologia e professora de Educação Especial da Prefeitura Municipal de São Carlos.
Giovana comenta que isso acontece frequentemente porque um individuo com desenvolvimento típico sem diagnóstico de TDAH fica, mais provavelmente, sob controle das atividades que têm consequências atrasadas (autocontroladas), por exemplo. "Prestar atenção na aula para ter notas boas nas provas finais. Enquanto que os indivíduos com TDAH, em geral, ficam sob controle das atividades que têm consequências imediatas (impulsivas), por exemplo, correr, brincar no parque, passear, conversar com os colegas em detrimento de prestar atenção na aula para ter notas boas no futuro", compara a pesquisadora.
O comportamento das pessoas com TDAH é afetado, portanto, por consequências imediatas, enquanto as consequências a longo prazo têm pouco efeito para esses indivíduos. As causas genéticas ainda não são claras. Para a Análise do Comportamento é uma questão de autocontrole. O que se sabe é que os organismos se comportam de maneiras distintas e a literatura comportamental da área de autocontrole aponta que crianças muito pequenas ou com algum atraso no desenvolvimento intelectual tendem a ser mais impulsivas e um adulto ou uma pessoa com desenvolvimento típico, menos impulsiva. "Nós do Lahmiei atuamos na análise comportamental, não ficamos sob o controle de diagnósticos, mas sim dos excessos comportamentais e ausências deles", diz Ana Arantes, pós-doutoranda do Laboratório e professora do Departamento de Psicologia da UFSCar.
Um grupo de 20 pesquisadores do Lahmiei desenvolve há três anos, em escolas públicas de São Carlos, pesquisas sobre autocontrole, buscando levantar, em crianças que têm maior probabilidade de serem impulsivas, circunstâncias e ocorrências que demostrem esta característica, estudando como transformar este comportamento e oferecendo ferramentas para que elas aprendam maneiras que as ajudarão a ter mais autocontrole, conta Fernanda Calixto, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e integrante do grupo de pesquisadores do Laboratório. "Neste ano iniciamos, em parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos, um trabalho de acompanhamento de cerca de 20 crianças com este perfil na EMEB Dalila Galli, aqui em São Carlos, ampliando nossa atuação na escola por meio do atendimento de estágio do programa de extensão Atendimento em Análise do Comportamento Aplicado em Ambiente Escolar", diz Fernanda, explicando que o grupo foca nos comportamentos que estão trazendo dificuldades de aprendizagem e socialização, impulsividade e agressividade. "A questão é quanto estes comportamentos impulsivos estão atrapalhando esta pessoa. Todos nós somos um pouco impulsivos, o problema é quando tal impulsividade atrapalha nossas vidas. Um exemplo para entender melhor do que estamos falando pode-se pensar numa pessoa que adora torta de chocolate e não resiste a um pedaço, enquanto outra pessoa só come torta de chocolate e nada mais. Esta última não consegue comer outra coisa saudável, somente a torta, trazendo prejuízo à sua saúde. Nosso objetivo, portanto, é ensinar comportamentos que irão ajudá-la a ter mais autocontrole, ou seja, controlar sua impulsividade", relata.

Diagnóstico
Não existe uma medida objetiva aceita e comum para o diagnóstico de TDAH, que é tipicamente baseado em critérios subjetivos, de acordo com Giovana. 
No caso das crianças, Fernanda explica que é preciso olhar a história de vida dessa criança e o histórico de aprendizagem de espera dela. "Como a família lida com a espera? A criança foi ensinada a esperar? Aprendeu com algum comportamento inadequado a conseguir o que quer imediatamente? A gente procura olhar para esta criança, sua história de vida e a relação dela com o meio ambiente. E o principal meio ambiente desta criança é a família". Para a pesquisadora, todo diagnóstico precoce é importante, desde que leve à inversão eficaz. "Se é um diagnóstico que vai levar somente à medicação, que em situações práticas não vai fazer uma grande diferença na vida da criança, então ele não tem um efeito muito positivo", defende.
Ana comenta que apontar que a criança tem TDAH não diz muito. "O que acreditamos ser mais importante é analisar o modo de vida desta criança e, para cada uma, a estratégia de atuação vai ser diferente. Por isso o diagnóstico, em si, não ajuda muito". Ana explica que os pais, cuidadores e professores devem procurar ajuda profissional já primeiros sinais de que o desenvolvimento da criança tem algo de diferente para a idade dela. "Como por exemplo, problemas no aprendizado, não se engajar em uma tarefa, ou não terminar atividades, dentre outros", relata a pesquisadora.

Medicação
Para a Análise do Comportamento é um problema de autocontrole. Então qual seria a solução para este problema? Giovana diz que desenvolver procedimentos de autocontrole neste individuo é a solução. "Seria a maneira mais eficiente, pois estudos da área mostram que crianças com TDAH que são medicadas e as que não são medicadas responderam de maneiras semelhantes para a alternativa mais imediata e menos reforçadora. O remédio, muitas vezes, vai baixar a ansiedade e aumentar o tempo que a criança ou o adulto consegue esperar ou se concentrar em uma tarefa, mas se você não ensiná-la (o) a se comportar autocontroladamente, não adiantará só medicar".
Thiago Bellini Ribeiro, estudante e desenvolvedor de software, descobriu que tinha TDAH com 20 anos numa consulta médica. O tratamento indicado pelo médico foi um remédio, que Thiago decidiu tomar acreditando ser o melhor a fazer. "Tomei o remédio por dois anos, mas decidi abandonar pois achava que o remédio estava atrapalhando mais do que ajudando, dando muito efeito colateral. Frequentei uma psicóloga e percebi que minha condição não é exatamente um problema, mas sim um funcionamento diferente e que, sabendo disso, poderia aprender a lidar comigo mesmo. Mas o mais importante pra mim foi aceitar a questão toda, ao invés de tentar rejeitar a minha condição achando que eu tinha que me encaixar em um modelo pré-definido pela sociedade. Hoje eu gosto de ter TDAH. Esta condição é parte intrínseca da minha vida. Não existe Thiago sem TDAH, logo se não a tivesse, talvez minha vida seria totalmente diferente hoje, e eu não acredito que seria melhor".
Giovana acrescenta que a Análise do Comportamento oferece procedimentos para desenvolver autocontrole e esses são muito efetivos. "Nosso 'remédio' é comportamental", destaca.

Atuação escolar
Com o objetivo de auxiliar professores da rede municipal a lidar com os problemas comportamentais em sala de aula, o grupo do Lahmiei, como parte do programa de extensão "Consultoria e Prestação de Serviços para Atendimento na Área de Deficiência Intelectual e Autismo: Institucional e Individual", em parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos, oferece um curso de capacitação de 32 horas. A atividade começa no dia 11 de abril e será oferecida na UFSCar para cerca de 400 professores da rede pública. "A demanda pelo curso surgiu pelo aumento de ocorrências de comportamentos de impulsividade, agressividade e problemas de aprendizagem das crianças, pelo aumento do número de crianças incluídas com necessidade educacionais especiais nas salas regulares e pela busca pelos professores por cursos que ofereçam ferramentas para trabalhar de maneira mais eficiente com essas crianças em sala de aula", explica Giovana.
A capacitação fornece possibilidades para que os profissionais da educação possam fazer uma avaliação inicial, desenvolver estratégias de intervenção e acompanhar essas estratégias de acordo com os objetivos de ensino para cada indivíduo.
O LAHMIEI tem mais de 35 anos de trabalho em pesquisas na área de Análise do Comportamento e as informações sobre o laboratório e suas pesquisas podem ser acessadas em www.lahmiei.ufscar.br. Outros esclarecimentos devem ser solicitados pelo email autismoufscar@gmail.com ou pelo telefone (16) 3351-8498. 

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